quinta-feira, 12 de setembro de 2013

vessa-vida

você bebe essa cana de qualidade duvidosa só pra depois poder me dar a garrafinha com um botão de rosa desbotado dentro. tendeu? é assim. isso resume tudo, benzinho, é o nosso fim. num tirei oito.cinco a minha vida inteira pra virar noite em buteco e depois dormir em apartamento abandonado junto a um bebum como ocê. tá ligado?! eu aprendi a usar essas pontuações aqui, ó, tá entendendo como é que é, benzinho, é isso aí, eu aprendi a usar essas pontuações aqui e ainda quase passei no vestibular. saca como é que é? tu num sabe nem soletrar ''buteco'', se brincar, mas eu sei: b-u-t-e-c-u. tá entendendo? é isso. porra. já te falei. e para de se afastar quando eu te empurro. seja macho, fique duro, DURO, parado enquanto eu te grito e te dou mil pontapés. porque tu merece, ô. aliás, nem merece. não me merece. adeus, adeus adeus adeus. já te falei tudo que tinha pra dizer. já te falei que não quero mais falar nada pra você, que meu corpo tá dolorido de você e que num to nem aí se tu quer um filho dois três ou a puta que pariu, vai ter que ir atrás de outras. eu não gosto mais de tu, já passou a época que a gente trocava uns curtis no facebook. é isso. adeus. e olha só, beibe, só pra ficar registrado: eu não dormi com o marco, mas SEI QUE TU COMEU MINHA MELHOR AMIGA ENQUANTO EU TAVA NA MANICURE PINTANDO AS UNHAS DO PÉ. tá entendendo? é isso mesmo, eu sei. enquanto eu TAVA NA MANICURE PINTANDO AS UNHAS DO PÉ, seu jumento, jegue, lagartixa sem rabo, tu comeu a mari, aliás, a LUCILA MARIANA. e eu sei. e adeus, seu idiota, eu não quero mais lembrar de você. eu vou me mandar no mundo. vou estudar muito pra poder passar na faculdade sem QUASE, e depois vou estudar muito pra me formar, e depois vou trabalhar muito pra poder comprar uma casa e depois vou economizar dinheiro e trabalhar muito de novo pra poder ter uma filha gostosa e inteligente e aí depois vou economizar muito pra poder pagar uma escola boa pra ela passar na faculdade e também poder comprar casa boa economizar e ter a filha dela e também mandar a filha dela pra faculdade. porque eu num to nem aí se tu pode me dar o mundo, caralho, eu preciso fazer o que tem que fazer e adeus. mas, assim, eu ainda te amo. tá. tchau.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

fios

ouço o som de um acordeão tocando longe
um piano
talvez uma canção de despedida.
uma mãe
testa com testa
e seu filho,
eles choram,
eles gritam,
ela promete
ele pede
mamãe, eu quero ir pra casa
eu quero ir pra casa
eu quero ir
pra casa.

fico ali pensando
enquanto o sangue espirra de minha veia falida:
quantas
e quais dessas crianças
vão pra casa.

poucas
porque os lençóis são brancos
e as cortinas também
e enfermeiras mal humoradas desfilam
suas sapatilhas velhas
e seus cabelos presos com grampos
nos corredores
entre as camas
no chão sujo de vômito.

enquanto meu sangue todo cabe em
12 copos
procuro uma saída
não vejo
estou presa
atada
à esta vida
à esta cama manchada de vermelho
à este mundo onde o sol tenta escapar por fechaduras buracos brechas pequenos
espaços.

tudo o que me prende aqui
são esses tubos
e esse remédio que
pinga
pinga
pinga
e arde
3 vezes por minuto.

mamãe tinha planos pra mim:
uma casa florida, filhos, poesia
e um bom marido.

papai me balançava na rede
até os treze
quando eu morria toda noite.

hoje
eu torço para que este seja o meu último adeus.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

game over

você já parou pra pensar que
entre um levantamento de peso
e outro
você pode morrer?

é assim que a vida joga
ela lança seus dados
na cabeça de quem quiser derrubar.
o sujeito b a l a n ç a
c
a
i
e aí
adios, bye-bye.

o sol não é para todos

nem todas as pessoas conseguem
acordar.

isso é um fato
que até de olhos fechados
nós podemos perceber.

como é que um cego
percebe quando está claro e quando
o céu escurece?
como sabe se
hoje é um dia feliz
ou se a tempestade vem vindo?

nem todas as pessoas conseguem
acordar.

isso é fato.

há os que não acordam por não ter olhos
ou os que não acordam por nem conseguir dormir
e até mesmo aquelas pessoas
para quem o sol nasce com sombras de grade.

nem todas as pessoas conseguem
acordar
nem todas as pessoas querem
acordar
mas há os que lutam muito
por uma noite de sono.

o sol não nasce para os que estão internados
ele apenas escapa pelas brechas
janelas brancas
jalecos.

nem todas as pessoas conseguem
acordar.

você quer?

porque, beibe
o ônibus estará lotado e
os adolescentes escutarão música alta
enquanto uma criança lambe as bolas de um sorvete
e uma prostituta faz
mais ou menos isso
na esquina seguinte.

nem todas as pessoas conseguem
acordar.

ainda bem.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

nós

eu afasto as suas costelas e 
descarto os ossos
como fossem figurinhas 
e abro o seu coração

dou nós às ramificações 
penso: não
não vou fazer isso, não
mas não há nada tão lindo nesse 
mundo
como quando como
você

então afasto os ossos
rasgo a carne
rompo essa loucura descompasso maior
só pra poder te costurar
em nós

e depois
entre as linhas
panos, sangue
nos despediremos da carne
nós seremos
colcha de retalhos.

sábado, 3 de agosto de 2013

mãe terra

seu corpo finda em raízes
sempre.

a gente olha e procura
os pássaros, as margaridas
e tudo acaba em raiz, nó, recomeço.

não tem problema
só correria na floresta
os índios montados em seus cavalos
com suas lanças, caras pintadas
e todos os animais
correndo sempre no mesmo círculo
como se o mundo estivesse
des
c
e
n
d
o
pelo ralo.

ainda bem que nós
estamos grudados
nalguma coisa
e morremos, morremos
lenta e infinitamente
juntos.